Um livro extremamente delicado. A história de duas irmãs que desenvolveram uma profunda cumplicidade, tendo sido criadas como "órfãs de pais vivos". Uma ferida difícil de cicatrizar e vivida por cada uma delas de forma distinta. As duas viveram as mesmas coisas, mas, ao mesmo tempo, cada uma viveu uma realidade totalmente diversa, pois a experiência subjetiva nunca é igual. Cada uma tem sua personalidade, suas próprias dores, sua forma de encarar o mundo, de amar e de perdoar - ou não.
O livro, que nos envolve aos poucos, mas que me conquistou totalmente, vai desdobrando temas variados com muita sutileza. A relação entre irmãs, um casamento bom, mas talvez morno demais, a relação entre mães e filhas, entre pais e filhas.
A tradução me pareceu bastante natural. Estranhei apenas a solução dada ao título. No original, em italiano, há um duplo sentido interessante: Cara Pace significa querida paz e soa como carapaça. Em português, Cara Paz não me passou a mesma ideia. Afinal, apesar de “cara” significar querida também em português, não é um uso frequente. Da mesma forma, Cara Paz não soa como “carapaça”. Para mim, faltou um trabalho mais atento de tradução aí.
Outro único "porém" seria a forma como o livro termina: uma resolução um pouco apressada. Um único capítulo em que a narradora vivencia emoções intensas que lhe permitem compreender muita coisa. Para mim, esse capítulo é dispensável. O livro já estaria completo sem ele.