Todos – ou quase – queremos que nossos filhos sejam leitores. E, por um tempo, achamos que a batalha está ganha. Quando eles são pequenos, parecem adorar os livros. Gostam das figuras, querem pegar livros na biblioteca, se divertem em visitas às livrarias.
Algo acontece, no entanto, quando ficam um pouco mais velhos. Uma certa aversão ao ato de ler. Tudo parece mais interessante do que os livros. A gente pode culpar a televisão, o celular, a Internet, as redes sociais. E tudo isso atrapalha mesmo. Mas eu acredito que podemos olhar a questão com um pouco mais de cuidado.
Se os livros gerassem um prazer real nas crianças, por que elas não optariam pela leitura? O que acontece quando atingem a pré-adolescência que tira delas esse prazer?
Minha hipótese, que também é a de Daniel Pennac, muito bem descrita em “Better Than Life” (Melhor que a vida), é a de que nós saímos de cena e a obrigação entra.
Quando as crianças ganham autonomia na leitura, lá pelos 7ou 8 anos, paramos de ler para as crianças, elas mesmas param de ler em voz alta, e indicações de leituras obrigatórias aparecem.
A leitura perde o caráter de afeto e diversão e passa a ser dever, tarefa. Assim, faz todo sentido as crianças retirarem os livros dos momentos livres de prazer e colocarem apenas nos momentos de lição de casa. A leitura vai perdendo seu encanto e o interesse vai diminuindo.
Daniel Pennac dá uma sugestão simples para contornar o problema: não parem de ler para seus filhos e filhas. E eu complemento: leiam livros divertidos. Divertidos não apenas para as crianças, para os adultos também. Livros que, ao lerem juntos, todos se interessem. Meus filhos em breve completam 9 e 13 anos. E eu sigo lendo para eles todas as noites – e, se não o faço, eles exigem. Bom, eu leio até para minha esposa, que tem 41. São momentos deliciosos, de carinho. Tiram o peso que às vezes se dá à leitura.
Para os pequenos, recomendo três que lemos aqui, aproveitando muito:
“Nu, de Botas”, do Antônio Prata;
“A Cor da Ternura”, de Geni Guimarães; e, para os um pouco maiores,
“O mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder.